terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Vida de Cão

"Quantos destinos nos abandonam ao entrarmos no caminho dos homens? Quantos caminhos abandonamos no destino que seguimos?
Invocamos o coro e a estrutura das tragédias para traçar o conflito que a todos nos percorre.
O conflito que se ergue entre aquilo a que aspiramos e aquilo que fazemos, entre o que lembramos e o que crescemos, entre o que amamos e o que tememos.
Pois, ao olharmos o cão tinhoso vemos também o cão que somos: o cão do medo, o cão da guerra, o cão colonizado, o cão colonizador, o cão coragem, o cão da decadência, o cão de fantasia, o cão da ingenuidade, o cão criança adulta, o cão fatalidade. Porque todos os gestos que desenhamos no exterior já aconteceram antes disso dentro de nós. E aquilo que ao mundo damos, seja morte ou seja amor, só a nós oferecemos em silêncio. Mas quando o destino nos escolhe, qual é o destino que escolhemos?"

Extraído do livro "Nós matámos o Cão-Tinhoso", de Luís Bernardo Honwana.

2 comentários:

  1. "quando o destino nos escolhe, qual é o destino que escolhemos?" - não encontrei nunca melhor frase para a minha descrença no destino e a minha aceitação nas coincidências... obrigada por partilhares!

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  2. Várias vezes ao longo da minha vida, escolhi não seguir o destino que este escolheu para mim. Talvez por isso, andei tanto tempo desencontrado... Porque acredito que não dependo só do destino, mas principalmente do caminho que decido seguir neste.
    E assim assumo as minhas vitórias, tal como as minhas derrotas. E desta forma, abro o caminho para a minha gratidão.

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