sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Boca e Mente

Alimento incoerências...
Engulo o que sinto,
digo o que não penso.
São diferentes frequências.
Tanto minto, omito, como engano...
Violo a vontade
e rasgo palavras,
mutilo o pensamento.
Chego a casa em sangue,
mas falta-me o sono.
Contudo não largo o chicote,
quero sofrer mais um pouco.
Ainda não me dói o lombo
como acho que devia.
Queria?
Então prolongo o meu festim...
Auto-flagelação, porque não?
Finalmente a doer, começo a gostar.
Obviamente que persisto.
Serei masoquista?
Sádico, dupla personalidade.
Ou talvez...
Sejam só requintes de malvadez.

A mente, por vezes, entra por caminhos que de fora não
consigo ver, alheado que estou a observar o mundano...

Imagem - "O Grito" de Munch.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Sempre que ouço esta música, lembro-me de ti...



Sitiados - A Noite

Ela sorriu e ele foi atrás
Ela despiu-o e ela o satisfaz

Passa-se a noite
passa-se o tempo devagar
já é dia
já é tempo de voltar


Aqui ao luar ao pé de ti

ao pé do mar
só o sonho fica
só ele pode ficar.

Pensamentos

Já o escrevi há algum tempo mas, neste momento, aplica-se na perfeição...

Sinto-me privilegiado por acreditar francamente que nada acontece por acaso.
E tudo tem uma razão de ser...
Que a vida tem o seu rumo e nós vamos optando, caminhando,
perdendo e vencendo ao longo do nosso destino.
Isto ajuda-me bastante a aceitar tudo aquilo que não controlo.
Todas as contrariedades que surgem no meu caminho.
Permite-me sentir gratidão por tudo de bom que me acontece.
Gratidão, que sentimento tão saboroso...
Agora, o grande desafio é perceber o que realmente depende de mim.
Por isso, trabalho, luto, conquisto, caio e levanto-me de novo.
Sempre de cabeça erguida.

De uma coisa tenho a certeza.
A vida ama-me e eu amo-te de volta.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Agora!

Perpetuem-se memórias e esquecimentos
tudo num ápice,
[num fôlego só!
Projectem-se aspirações e derrotas
tudo num campo,
[numa batalha só
Horizontalizem-se os pontos de fuga e as perspectivas

tudo numa folha,
[numa linha só!
Recriem-se labaredas e cristais gelados
tudo num hemisfério,
[numa estação só!
Procurem-se…

tudo num olhar só!

e não menos que tudo… AGORA!

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

perdidamente...

Tenho por certa a incerteza de amar sem estranheza como se nada tivesse que saber nem requerer... como se quando o nosso coração nos escapa, imune aos nossos medos, nós nos reencontrássemos... perdidamente...

O desejo de ser cão

Algo não está bem quando surge o desejo de ser cão.
De urinar sem pudor num arbusto qualquer
Ou correr estupidamente atrás de carros
Sem ter uma responsabilidade sequer.

Algo não está bem quando receio o coração.
Pesa-me a consciencia, mas nego o sentir.
E acabo a fugir de um qualquer amanhã...
Isto só passa quando páro, olho para trás
E percebo que, na verdade, mais valia ter sido cão.

Felizmente, só por hoje… Não!

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Memos UM

As fotos, cábulas da memória
E não só elas…
ofereçam-se também os cheiros
dos lugares e dos perfumes
[guardados
e temos os sentidos acordados


E os sons, são despertadores
e não só eles…
provoque-se um toque de pele, na nossa pele…
ou um roçar suave de um beijo
[no rosto
e não há sono que nos chegue, aposto!
.
.
.

Vida de Cão

"Quantos destinos nos abandonam ao entrarmos no caminho dos homens? Quantos caminhos abandonamos no destino que seguimos?
Invocamos o coro e a estrutura das tragédias para traçar o conflito que a todos nos percorre.
O conflito que se ergue entre aquilo a que aspiramos e aquilo que fazemos, entre o que lembramos e o que crescemos, entre o que amamos e o que tememos.
Pois, ao olharmos o cão tinhoso vemos também o cão que somos: o cão do medo, o cão da guerra, o cão colonizado, o cão colonizador, o cão coragem, o cão da decadência, o cão de fantasia, o cão da ingenuidade, o cão criança adulta, o cão fatalidade. Porque todos os gestos que desenhamos no exterior já aconteceram antes disso dentro de nós. E aquilo que ao mundo damos, seja morte ou seja amor, só a nós oferecemos em silêncio. Mas quando o destino nos escolhe, qual é o destino que escolhemos?"

Extraído do livro "Nós matámos o Cão-Tinhoso", de Luís Bernardo Honwana.